quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uma visitinha ao fundo do poço




"Só vemos a luz quando estamos no fundo do poço e olhamos para o alto."
                                                                                  Liliane

Por Juliana Bley

Que a vida é cíclica? Já sabemos. Que a felicidade não é um estado permanente? Já entendemos. Mas é duro experimentar na pele estas verdades.

De tempos em tempos, chega um momento que é hora de descer. É o tempo no qual a onda da vida já estourou na areia e está recolhendo-se para o mar, antes de virar onda de novo. E nesta hora a pessoa se depara com a inevitável, inexorável, incontrolável descida ao subsolo do fundo do poço. É sim. O fundo do poço tem porão e subsolo, segundo uma cliente minha. Quando se pensa que chegou ao fundo abre-se uma porta de escada que leva a andares ainda mais baixos.
Ai de mim.

Para os menos escolados nestes movimentos, o entendimento de onde se está só acontece depois que a pessoa já desceu e está lá há algum tempo. Então "do nada" um velho amigo vem com aquela "o que houve com você? não estou te reconhecendo!". E depois seu corpo te joga na cara a situação real com aquela típica "travada" no pescoço. As coisas começam a perder o gosto e só se pensa em como era bom o tempo que eu era alegre e feliz... ou como será bom quando a vida me trouxer a oportunidade de viver plenamente outra vez.
  


Todas estas situações vão te mostrando, te fazendo realizar que as coisas não vão bem, nem dentro nem fora de você.

São muitas as vezes que um ser humano passa por este processo ao longo da sua vida. É inevitável. Nada que se faça pode impedir esta periódica jornada. Não há opção. A única certeza que temos é que: vai passar!

Com o tempo e com algumas aprendizagens importantes, de tanto passar por isso, pode chegar a uma altura que você consegue descer até o fundo do poço de outro jeito. De olhos bem abertos, reconhecendo onde está, sentindo todo o medo, toda a amargura, toda a frustração e solidão que esta experiência te oferece. Com lucidez, sem desespero. Permitindo que sua natureza essencial atravesse este momento no tempo e na forma que for possível.

Se você está acordado ao atravessar baixas da vida é possível gerenciá-las de uma forma mais saudável:
Evite tomar decisões importantes e falar coisas para as pessoas que ama nesta fase, pois você não está na sua melhor forma.
Cuide para não entrar no "vitimismo" achando que todo mundo é feliz menos você (isso não é verdade, todo mundo tem seus tempos sombrios).
Cuide também para não sair entrando na primeira farmácia e comprando aquele “kit tarja preto” achando que você está doente dos nervos. Não! Tristeza não é doença! Acredite!
Se você sentir que não dará conta de sair sozinho, peça ajuda!


O fundo do poço é o lugar das águas profundas. A água simboliza as emoções. É extremamente importante para nosso crescimento que façamos estes mergulhos em nossas águas profundas. Ali conhecemos os nossos padrões, nossos condicionamentos, o que está por detrás das nossas máscaras sociais. Não tenha medo de explorar seu mundo subterrâneo. Tudo o que está ali é parte de você. É você.


Lao Tsé dizia que "a posição yin, ou receptiva, é como a água que a tudo se molda porque a tudo se submete".

Este é um convite a uma postura mais receptiva diante da vida. É um tempo de acolher, sem julgar, a necessidade do mergulho. De se entregar a este pedido da sua alma de que você vá mais fundo em você mesmo.

A melhor forma de viver isso é aceitando com naturalidade este seu momento. Ficando mais em silêncio, mais quieto no seu canto, dormindo bastante, evitando eventos e pessoas que possam te perturbar mais ainda, escutar o que seu corpo e sua alma precisam para fazer o que precisa ser feito (uma comida, um filme, um livro, uma visita a uma pessoa muito especial que tem tudo a ver com os temas que estão te movimentando o coração neste momento)... se nutrindo de amor próprio e fé na vida.
A pior forma de viver o fundo do poço é se sentir vítima do mundo e ficar preso na ansiedade de querer sair dali o mais rápido possível!


Precisamos re-lembrar que enfrentar as travessias pantanosas da existência é essencial para nossa evolução. Do fundo do poço saímos mais fortes, lúcidos, de posse de nosso real poder para a vida e, principalmente, cada vez mais conscientes de nosso verdadeiro valor...